quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Dissertação 3-E

Uzodinma Iweala, um escritor nigeriano, publicou o seguinte artigo no jornal Washington Post em julho de 2007. Leia o texto com atenção e responda as seguintes perguntas(Respostas copiadas serão desconsideradas na nota):

Parem de tentar “salvar” a África

por Uzodinma Iweala
Domingo, 15 de julho de 2007

Ano passado, logo após eu ter retornado da Nigéria, eu fui abordado por uma universitária loira e confiante cujos os olhos azuis pareciam combinar com os colares “Africana” no seu pescoço.

“Salve Darfur” ela gritava atrás de uma mesa cheia de panfletos convocando os estudantes a “FAZEREM ALGUMA COISA! PAREM O GENOCÍDIO EM DARFUR!”

Minha aversão à universitárias que embarcam em causas sociais quase me fez ir embora, mas seu próximo grito me fez parar.

“Você não quer nos ajudar a salvar a África?” ela gritava

Parece que nesses dias, enterrado pela culpa pela crise humanitária que criou no Oriente Médio, o Ocidente se voltou para a África em busca de redenção. Universitários idealistas, celebridades como Bob Geldof e políticos como Tony Blair tentaram trazer luz ao continente negro. Eles voam para fazer estágios e missões ou para adotar crianças da mesma forma que eu e meus amigos em Nova York tomamos o metrô para adotar cachorros perdidos.

Esta é a nova imagem do Ocidente: uma geração sensual e politicamente ativa, cuja a forma predileta de espalhar as idéias são por páginas duplas em revistas de celebridades com celebridades na frente, africanos tristonhos ao fundo. Ignore que as estrelas enviadas para trazer alívios aos nativos são, por vontade própria, tão magros quanto aqueles que eles querem ajudar.

Talvez o mais interessante é a linguagem utilizada para descrever a Africa sendo salva. Por exemplo, a campanha “Mantenha uma criança viva/Eu sou africano” que estrela retratos de celebridades, na sua maioria brancas e ocidentais com “temas tribais” em seus rostos com a frase “EU SOU AFRICANO” em letras garrafais. Embaixo, em letras menores: “ajude nos a frear a matança”.

Tais campanhas, apesar de bem intencionadas, promovem o estereótipo da África como um buraco negro de doença e morte. Noticias frequentemente focam nos líderes corruptos do continente, guerras, conflitos “tribais”, trabalho infantil e mulheres desfiguradas por abuso e mutilação genital. Essas descrições passam por baixo de manchetes do tipo “Pode Bono salvar a África?” ou “Irá Angelina Jolie salvar a África?” A relação entre o Ocidente e África não é mais baseada em crenças abertamente racistas, mas tais artigos são remanescentes dos relatórios do auge do colonialismo europeu, quando missionários eram enviados para a Africa para nos introduzir à educação, “Jesus Cristo” e civilização.

Não há africano, eu incluído, que não aprecia a ajuda do mundo, mas a pergunta é se essa ajuda é genuína ou se ela é dada no espírito de se afirmar a superioridade cultural de alguém. Meu espírito entra em depressão toda vez que eu participo de um evento cujo que fala de uma série de desastres africanos, com um apresentador (geralmente) rico e branco, que lista uma série de coisas que ele fez para os pobres, famintos africanos. Toda vez que um universitário bem-intencionado fala de camponeses dançando por quê eles são tão gratos à sua ajuda, eu lamento. Toda vez que um diretor de Hollywood filma um filme sobre a África estrelado por um ocidental, eu balanço minha cabeça – por quê africanos, por mais reais que possamos ser, somos usados como figurantes na fantasia do Ocidente por si próprio. E não só tais representações ignoram o papel promeniente do Ocidente em criar muitas das situações desagradáveis do continente como também ignoram o trabalho incrível que os africanos tem feito e continuam a fazer para consertar esses problemas.

Por quê a mídia frequentemente se refere aos países africanos como tendo “ganho a independência dos seus mestres coloniais” ao invés de terem lutado e derramado sangue por sua liberdade? Por quê Angelina Jolie e Bono recebem uma atenção assustadora por seu trabalho na África enquanto Nwankwo Kanu ou Dikembe Mutombo, ambos africanos, dificilmente são citados? Como que um ex-diplomata americano recebe mais atenção por suas modas de caubói no Sudão que os numerosos países da União Africana que enviaram comida e soldados e gastaram horas incontáveis tentando negociar um acordo entre todas as partes da crise?

Dois anos atrás eu trabalhei num campo para pessoas localmente deslocadas na Nigéria, sobreviventes de confrontos que mataram cerca de mil pessoas e expulsaram 200 mil. Fiel ao hábito, a imprensa ocidental relatou a violência, mas não o trabalho humanitário do estado e dos governos locais – sem muita ajuda internacional – fizeram pelos sobreviventes. Assistentes sociais gastaram seu tempo e em muitos casos seus próprios salários para cuidar de seus compatriotas. São essas pessoas que estão salvando a África, e outros como estes por todo o continente recebem nenhum crédito pelo seu trabalho.

Mês passado o Grupo das Oito Nações mais industrializadas e um grupo de celebridades se reuniram na Alemanha para discutirem, entre outras coisas, como salvar a África. Antes do próximo encontro eu espero que as pessoas descubram que a África não quer ser salva. A África quer que o mundo reconheça que por meio de parcerias com outros membros da comunidade global nós somos capazes de um crescimento sem precedentes.

Uzodinma Iweala é autor de Feras de lugar nenhum", um romance sobre crianças soldadas.

1-) O autor critica de forma forte as campanhas humanitárias recentes em prol da África. Enumere as razões pela qual ele faz isso.

2-) Quando o autor fala de Ocidente e África, ele relaciona uma relação cultural em que uma parte sempre foi vista como inferior à outra e numa relação política mantida sobre bases coloniais. Uma relação de dominação, basicamente. Especifique como funcionariam estas relações, de acordo com o texto.

3-) De acordo com o autor, qual a imagem que o mundo faz da África?

4-) Qual a imagem que você faz da cultura e da arte africana? Considerando a larga porcentagem da população brasileira que é descendente de africanos, você acha que é uma cultura de fato reconhecida no Brasil?

5-) Você concorda com a idéia do autor de que os europeus e americanos(Ou seja, o Ocidente) criaram a imagem de um continente africano à mercê da fome e da guerra, que precisaria da ajuda deles(Seja por meio do colonialismo, seja por ajuda “humanitária”) para se sustentar